sexta-feira, 24 de novembro de 2006

O incidente:
Hoje, enquanto esperava à entrada do "balcão" das urgências de um importante hospital de Lisboa, para falar com um colega, fui abordada por um "senhor administrativo", que me informou que não poderia permanecer ali (ali sendo um sítio de passagem de toda, literalmente toda a gente), uma vez que não tinha a bata vestida e estava a violar a privacidade dos doentes, pois vestida "à civil" eles não saberiam se eu era médica ou outra coisa qualquer.
O contexto:
As urgências do dito hospital encontram-se em obras (que choque! que surpresa!) e os "balcões" de homens e mulheres foram temporáriamente instalados num hall de passagem, com umas paredes falsas a limitar o perímetro e uma cortina na "porta de entrada". Os referidos "balcões" encontram-se no mesmo espaço, ou seja, homens e mulheres todos juntos. Nem sequer estão homens para um lado, mulheres para o outro. Não. Homens, mulheres, cães e gatos (já que ali não há pediatria, logo não há crianças) em qualquer canto, em qualquer sítio onde haja espaço, sem qualquer lógica nem respeito. Junto à "porta de entrada" encontram-se, em todos os instantes, diversas pessoas, nenhuma delas funcionária do hospital e com pouca probabilidade de sequer pertencerem à classe trabalhadora da área da saúde.
A conversa:
"...ah, e tal, não pode estar aqui à porta. Quem é você?"
"Sou blá blá blá, vim falar com o Dr. blá blá" (que se encontrava a 3 passos de mim).
"Então e a bata?" (vindo de uma pessoa de calças de ganga e t-shirt, que tinha acabdo de sair do tal espaço).
"Não a tenho porque estou num congresso aqui ao lado, vim mesmo só para resolver um assunto com blá blá"
"Pois. Mas não pode estar aqui. Chegue-se ali para o canto"
"Mas eu estou só à espera que ele acabe de falar com aquele doente, ele sabe que eu estou aqui, pediu-me para esperar"
"Pois. Mas aqui não pode ser. Chegue-se ali para o canto que ele quando se despachar concerteza vem cá fora" (ele gostava do canto, está visto).
"Mas porque é que não posso esperar 2 minutos aqui?"
"Porque está sem bata e para os doentes que estão ali dentro você pode ser outra pessoa qualquer e eles sentem a privacidade violada" (isto é literal, garanto-vos. E ele continuava de calças de ganga e t-shirt).
"Mas eu estou atrás da cortina e nem sequer estou a olhar lá para dentro. Além disso há sempre gente aqui à porta a espreitar e nunca vi ninguém dizer-lhes nada. E se tivesse a bata comigo estava ali dentro e não aqui fora a ser mandada para o canto. Só que acho que estar ali dentro sem bata não é correcto" (estão-se todos nas tintas para isso, menos aqui a otária).
"Chegue-se ali para o canto senão mando-a embora" (e, virando-me as costas, voltou a entrar no "balcão", acompanhado das suas calças de ganga e da sua t-shirt).
O resultado:
Rendida pela irritação e pela fome que não me deixou ter forças para discutir mais com o "senhor administrativo", cheguei-me para o canto. O dito ainda se riu na minha cara ao longe, enquanto conversava com um colega.
Depois de uma eternidade no canto à espera, resolvi desobedecer ao "senhor administrativo" e ir ver se o colega já tinha despachado o doente e podia então conversar comigo. Naturalmente o colega estava despachado há que tempos, e eu também já podia ir a caminho de outro sítio qualquer com o problema resolvido.
A conclusão:
Se tivesse entrado (mesmo sem bata) ninguém me tinha posto no canto. Se começásse a funcionar na mesma base dos outros todos (na base do ingnorar regras) de certeza que tinha a vida muito mais facilitada e que me poupava muitos minutos de irritação.
Cada vez menos entendo até que ponto vale a pena ter princípios.

2Disseram...

Anonymous Anónimo opinou...

E que tal mandá-lo a ele vestir a bata!?

27/11/06 10:23  
Anonymous Anónimo opinou...

Devias ter perguntado se era para vestires uma bata igual à dele ou se tinha de ser outra diferente!!!!

27/11/06 13:15  

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