...com algum atraso de leitura, mas sempre com orgulho!
"Hernâni Miguel voltou ao Bairro Alto. E isso é bomDiferenza é o novo bar de Hernâni nos confins da Atalaia. E tem um WC bestial, conta João Macdonald. O Diferenza é o único bar de Lisboa que tem uma sala de espera para o WC. Confortáveis cadeiras e uma mesa enquanto se aguarda vez. Mais ainda, o Diferenza não tem dois, mas sim três WCs – o terceiro é para emergências. “As pessoas é que precisam de espaço, não são os armazéns!” Assim fala com sapiência Hernâni Miguel, decano das noites lisboetas, recém-regressado ao Bairro Alto para abrir este novo bar com o sócio Miguel Ruah. É isso mesmo: Hernâni voltou ao bairro. E caso não saiba, isso é motivo de festejo.
Aqueles que têm mais currículo na noite saberão que a ele se deve, nos florescentes anos 80, lugares como o Lábios de Vinho, o Ocarina, o Janela Indiscreta e, acima de tudo, o elegante Targus e o fundamental Três Pastorinhos. Os mais recentes noctívagos podem identificá-lo com o Napron (no mesmo lugar dos Pastorinhos, e ao qual ainda se mantém associado), estabelecimentos, todos eles, localizados no Bairro Alto. Nos últimos anos Hernâni investiu no Pólvora Café Concerto, em Oeiras, depois voltou à cidade numa parceria na LX Factory com a livraria Ler Devagar e por fim, há não mais de um mês, devolveu-se às raízes instalando-se na Rua da Atalaia com o Diferenza. O guineense-alfacinha, assim se descreve, crescido no Chiado, “o pequeno quadrado mais cosmopolita do país”, está pleno de boa disposição. “Sou um urbano alegre!”, elucida. Assim como todos os lugares que inventou para as noites da capital.
O Diferenza está na zona “mais quente” do Bairro Alto. Que é como quem diz na parte onde a Rua da Atalaia começa o cotovelo que a liga à Rua da Rosa e que nunca foi especialmente convidativa – tirando aqueles belos anos na década de 90 em que toda a gente se pelava por uma mesa no Hell’s Kitchen, à altura um dos restaurantes mais originais da cidade. Com Hernâni e o Diferenza, a zona já arrefeceu de novo. É impossível resistir à disseminação de bom espírito das iniciativas deste homem.
Aberto todos os dias da semana das 21.30 às 02.00 – mas, daqui a algum tempo, com horário 18.00-04.00 –, é um lugar “pluricultural”. A programação, ainda em desenho, abre-se à stand up comedy, a concertos (jazz, música étnica, MPB, chorinho, os sons do músico brasileiro Leo Castilho e uma vontade de trazer as Divas de Cabo Verde), e o DJ Vítor Alves aos sábados. Também é possível reservar o Diferenza para festas “só para amigos”. Nos consumos, além dos álcoois habituais, e considerando a futura happy hour, haverá vinho a copo e acepipes. E pode-se fumar.
Tudo isto é atravessado por um espírito de cidadania. A Hernâni Miguel nada agrada a epidemia de microbares no Bairro Alto, esses espaços de condições estrangulatórias que fazem o negócio mais na rua do que no interior e, muito abusivo, apresentam WCs mínimos. Por isso sustenta: “A confusão não se resolve com o encerramento dos sítios às duas da manhã. Acredito até que a Câmara Municipal o tenha imposto para depois calmamente recuar, mas não é por aí. O que deve ser feito é exigir a sério aos bares que se melhorem – não esquecendo que cada caso é um caso”. Só isto, acredita, atribuirá calma e limpeza às ruas. “Ah!”, avisa, “e sou ainda a favor de aumentar a vídeo-vigilância”. Para transmitir mais segurança, acima de tudo, aos turistas.
Cada caso é um caso, e a boa escala humana do Diferenza é um exemplar caso. Por fim, o que faz mesmo de um bar um bom bar? “Uma coisa muito importante”, explica Hernâni. “Tem de ser um sítio onde uma mulher se sinta completa e absolutamente à vontade vindo sozinha e estando sozinha. É o que este bar é, e uma das diferenças é essa.” "
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